sexta-feira, 29 de maio de 2009

Palavras são cansaços de poesia a tentar pôr de pé um voo de alma.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

sábado, 2 de maio de 2009

Poematório
em primeiro grau

Cervejo-te num copo vazio de espuma. Não te bebi os sonhos esta noite. Estou sovinho no quarto com uma garrafa de poemas apontada à cabeça. Entorno uma lágrima pelas escadas abaixo. Engulo de um só trago o desejo em torno da pele. Procuro a bússola às apalpadelas. Dizem que quem te língua vai ao aroma dos teus lábios. Eu prefiro continuar adormecido. Não há melhor abismo que acordar de um sonho pornográfico e reparar que o mundo melhorou um pouco graças ao nosso amor. Prefiro continuar em vigília. Sem anestesiar o coração. Estou-me nas tintas para a métrica desobediente que uso em cada verso!

Um poema é muito mais que poesia. É um precipício de corpo inteiro em queda livre!

Mesmo sem o teu com sentimento fumo as cartas perfumadas que não chegaram. Torno-me socorrista voluntário dos teus desabafados. Do mundo apenas quero um pedacinho para levar para casa. Só! Respondo aos teus poemas com sotaque de silêncio como quem responde indignado a um insulto obsceno. Invento a brandura das estrelas para apaziguar aquelas discussões quase domésticas logo pela manhã com medo que os caçadores furtivos viessem durante a noite para nos assaltar a lua. De nada nos serviu. Nem a carapuça.

Como um camaleão. Mudas de palavras conforme o sentimento onde te encontras. De tanto te dizer o que sinto acabei por me desdizer no que sou. Peço licença a solidão que habita no quarto ao lado. Entro. Dou cambalhotas com a vida. E saio. Fecho-me à chave debaixo dos lençóis. Sustenho minutos que não vêem escritos nos relógios. Sustenho vertigens dentro dos olhos. Interrompo a linguagem irrequieta que sustenho no dedo que indica a dor. Ariscas a vida o sangue a carne os ossos riscas a folha o espelho o rosto com cacos de algodão de vidro. Sou mais caçador que furtivo. As palavras são a minha pressa. Sem olhar nem para um lado nem para o outro atravesso a estrada fora da passadeira. Passa por cima desta coisa que me faz sentir e risca-me a alma como quem risca um fósforo.

Estou-me nas tintas para os alfinetes com os quais alfinetaste o pára-quedas quando saltei o meu corpo pela janela. A inutilidade da escrita sinto-a na hora de ficar calado! E nas tintas só estou de vez em quando quero pintar as rosas da cor da vida que não é. Quando és o sabor de um fruto antes de amadurecer. Quando nem todos os caminhos vão dar ao teu aroma. A inutilidade das palavras sinto-a não na hora de ficar calado mas um minuto antes do bolor contaminar o pressentimento que quero vomitar. Mas não vos imito. Ainda transpiro o bálsamo fresco da memória como se da infância nos conhecêssemos. Ainda brinco às escondidas com a felicidade como era antes. Molho-te com passos de dança em cima de poças de água. Agora cuida do presente. Cuida do ar em movimento à velocidade de um sopro de vento. Poeira. Adubo. Seiva. Fermento. Cuidado com a mania de fabricar naufrágios fora de horas. Os espelhos não se rasgam com as mãos. Cuidado ao tentares domesticar a palavra infinito. O tempo não deixa gorjeta.

Bordei o luar. As ondas. A espuma. A areia. Por hoje termino aqui. Frente à praia. Apetece-me acordar noutro lugar da minha loucura e não mais pensar no assunto.