sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Projecto colectivo

Encontro de documentos poéticos no plural reunidos num livro de expressões singulares...

Apresentação:

Lisboa 5 Dezembro, Livraria Barata, 19.30h

Mais informações em: 22olhares.blogspot.com

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Lapso

Se por um só dia for...
Nada melhor que uma chantagem de afectos para encobrir todos os lapsos de fraternidade por desembrulhar.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Alcateia Imagética
Com
António Lobo Antunes

Quando cheguei já a porta estava aberta. Interrompi. Talvez um prefácio ou uma dedicatória para alguém. Presumo. Encontrei o mesmo silêncio definitivo. imperativo. Todos os ruídos eram semelhantes ao Silêncio. Somente quebrado pela fricção entre a caneta e a folha de rascunho. Nada mudou. A inquietante estranheza do "lugar de trabalho" no entanto, hospitaleiro e afável...

Sem caprichos nem sintómas visíveis de qualquer espécie de vedetismo. A conversa deabulou à volta de tudo um pouco. Tímida. Reservada. Mas fluente...

Com um sentido de humor paradoxalmente complexo e acessível.

Entre um sumo e uma torrada. Mais uma oportunidade. Ler o escritor sob um ângulo diferente. O que nos revela o homem. Toda a sua humanidade. Sinceridade. Autenticidade. O homem com situações reais. Comuns... O homem fora do livro.

Uma personagem humana admiravelmente humilde. Dotado de uma sábia e genial grandeza interior...

Não são só as palavras.

É o acto.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Narrativo
U
m horizonte cada vez mais sempre. Aqueles anéis de luz interrompidos quando. A mão que acaricia depois. Talvez uma alma circular que embate desde. O despertador que não trocou. Outra contradição íntima que entretanto.
Sempre. Sempre com palavras desarrumadas sobre a mesa. Quando. Quando o crepúsculo vier corrigir as linhas curvas dos meus passos. Em câmara lenta. Depois. Depois da raiz quadrada. Dois versos. uma quadra. De segredos divididos. Com uma máscara translúcida. Hipérboles. Tangentes. Ângulos vários sem métrica. Segmentos. Circunferências. Eixos. Hipotemusa de estranhos poemas. Números pares. Números divorciados e ímpares cada um par da sua solidão. Depois. Depois destes monólogos confusos. Com fusos horários trocados semeando ilusões nos calendários da memória. Desde. Desde o momento em que tentas excluir a exclusão sem perder a tua própria âncora. No fundo do mar. Entretanto. Entre tantos holofotes virados para o anonimato. Enquanto. Enquanto o semblante indiscreto de um olhar anonimata-me a luz do candeeiro ao relento de mim. Mesmo. Mesmo. Que a noite venha mastigar o barco de papel não vou cruzar os abraços. Na fronteira dos equívocos e gralhas. Enfrentarei a utopia com palavras de aço. Irei de boca em boca com uma explosão de tambores acústicos declamar. Pregar. Recitar. Narrar. O esplendor das nossas batalhas. Irei. Mesmo com uma alcateia de aranhas penduradas por detrás das vidraças. Vestígios carnais à tona da cama. Roupa por todo lado espelhada no chão. Espelhada nas escadas. Espelhos partindo. Fabulosamente pobres. Aquela cortina quase sem cor. Rente à alcatifa. Aliás. A cortina faz de porta. Espécie de biombo. Desde o nervo em que fui incapaz de dar um pontapé naquela porta de madeira enferrujada. Não. Apenas tentei afugentar uma mosca com a ponta do pé e sem querer derrubei as asas da fechadura dos segredos só de mim anónimos. desconhecidos. Os destroços em forma de alimento. A panela queimada por falta de esquecimento. A loiça para lavar a vontade espalhada na cozinha. A luz redondamente enganada por arrumar no tecto. O pano para varrer a preguiça de esfregar os olhos para te ver. No fim. Porque.
É festa-feira.
Amanhã será sábado o dia. Pois. Irei. Irei. Embora tímido nestas regras sem jogo. E Rei na longa paciência que é amar sem trono. Mesmo sem poesia nos bolsos para comprar o pão de cada verso. Mesmo desempregadamente no olho das ruas que me empregam partidas. Mesmo de prego em prego martelando as portas. Irei. Desocupado. Aprender mil línguas para te dizer um beijo. Em todas elas pedirei a absolvição da lâmpada lá em cima que te faz confundir as estrelas com as pedras. Sonâmbulas. Pedirei. Mesmo sabendo que em nenhuma delas te vou compreender.
Não vou cruzar os abraços. Vou excluir a exclusão. Voar alto. Sonhar baixinho. Antes que a noite chegue para mastigar o arco-íris de farrapos coloridos. E o vento regressar para me ressuscitar à chapada. Dizendo-me em tom de segredo. Acorda! Acorda meu filho. Acorda! Já é dia. Mas. Mas vocês enrolaram a corda à volta da língua um cronómetro antes do sono alcançar os olhos. Sim. Como vês. Só resta esta jangada. De papel e trapos. Mas. De aço como algodão. Algo tão delicado que as mãos dão em leveza e brandura para não quebrar a corda e o sono e a cama e a língua e o dia e o tom em segredo e as pedras e as estrelas e as máscaras e o arco-íris e a jangada e os papeis onde esqueci as vírgulas e a pontuação final nas nossas loucuras. Como vês. É no convés dela onde alvejo as ondas que anonimato cada vez que os martelos se recusam a absolver o silêncio enrolado na língua.
É do ar do fluxo marítimo que decifro o meu nome.
Porque não conheço sinónimos para o impossível.
Porque um verso são versões que os outros dirão.
Porque a grandeza da minha razão será sempre mais luminosa quanto maiores forem os lábiosrintos da minha simplicidade.