Ensaio pelos livros
Há 5 horas
Escrever com as mãos cheias de silêncio
A verdade, seja ela qual for, vou devolvê-la ao rio devoluto no fundo dos teus olhos. Pode ser que os meus, cansados de te amar à primeira vista, se transformem em horóscopos d´água e se deixem ficar, por mais uma noite, límpidos. Se tal não acontecer, paciência.
Porque tu, amor, tu e todas as máscaras pintadas a lápis de cor, são bengalas que se movem sozinhas dentro dos meus passos, são insónias que hão-de amadurecer e cair de sono à cabeceira da cama, quando elevarmos a verdade ao infinito e não restar outro caminho, senão apelarmos à memória para nos salvar da indiferença.
Germinação
Dirijo-me à janela. Isto é, abro a palavra na ânsia de me arejar por dentro. Avanço em direcção às margens sem olhar para os lados. Avanço com vontade de arregaçar as mangas e mergulhar Tejo a dentro mesmo sabendo que nem todos os rios sabem nadar. Avanço de versículo em versículo disposto a aceitar a vida, instante que nos convida a ser felizes, embora sejamos infinitamente provisórios. Avanço tentando pendurar a voz na corda vocal mais perto da língua, pois cansei-me por descarregar frases sinuosas sobre pedras como se a poesia fosse apenas uma grande mala carregada de cansaço. Cheguei. Agora, deixem-me terminar o poema, não sei por onde começar. Mas que poema? Que palavra? Que caminho é esse que nos faz andar de um beijo para o outro à procura de um abraço? Pode lá ser poesia uma coisas destas!