terça-feira, 29 de abril de 2008

Loucos são os que possuem vocação para escapar ilesos ao sonho.

Mas. Guarda a tua apenas para ti!

domingo, 27 de abril de 2008

À margem

Tranquei a porta da cela. Aproximei-me da janela. Quis à força Abril os teus olhos com a chave das palavras...
Mas...
Nem sempre a liberdade está do lado de fora!

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Insónias

Atiro-me à queima roupa contra os cobertores. Os soníferos se recusam a me embalar o sono. A chuva continua a desmoronar-se em trapinhos de água doce sobre a minha cabeça. Temo acordar amanhã com os sentimentos constipados, mas, não tenho outra anestesia senão brincar às escondidas com a insónia. Tenho preguiça de morrer hoje. Tenho preguiça de ficar aqui deitado. À espera. Tenho preguiça de recuperar os poemas que encontrei sepultados na tua boca. Tenho-me de pé!! Sim, tenho-me na vertical. Fumo mais meia-dúzia de palavras às escuras. Espeto um prego em cada uma delas, mas, apenas e só, nas extremidades das sílabas tónicas. Chove. Cá dentro também. Corro para o exterior do quarto e adivinho um décimo do teu perfume nas fotos que ainda resistem ao gesto destemperado de te rasgar a ausência. Procuro os meus olhos no espelho. Recuo perante a tua omnipresença semi-nua. Refugio-me no interior de um envelope qualquer sem remetente e envio-me com destinatário desconhecido, publicamente anónimo.
Pois é, tenho o mau hábito de espiar as zonas quebradiças da tua alma e tu tens o mau hábito de me fazer regressar à vida quando os soníferos aceitam o embalo envolto na anestesia de água doce que a chuva faz cair sobre mim.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Retrospectivas

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Emoção perpétua

Nas galerias da memória o esquecimento é única recompensa, o amor surge aparente sob a forma de uma fabulosa punição. Ultrapassas a mera condição de estranho. Atiras beijos em todas as direcções, continuas a desconhecer qual deles chegou inteiro ao destinatário. Escreves baixinho para não fazer barulho. Não vá o ranger do lápis despertar os esqueletos dos fantoches que desenhas na tua alegria paralítica.

O esquecimento, a tua muleta, porque há coisas que só são agradáveis enquanto apagadas.

Só existe um caminho para quem já se esqueceu que as pernas servem para voar. Voar do lado alado da rua.

Pois, andar para trás também é viajar.

Cultivo a recriação de um ontem, aqui, com as sementes do amanhã. Existo para te reconciliar com a tua solidão. Escrevo para me decifrar. Mas é a ti que encontro. O ontem ultrapassado é hoje mais uma ponte por atravessar. Não consegues estabelecer um diálogo sem que o dia logo anoiteça. Se houve palavras. Eram postiças. Se houve amor. Era inventado. Se houve sentimento. Era incompleto. Se houve sonho. Tornou-se realidade no intervalo da alma. Se houve tu e eu. Agora só existe eu e eu. Se houve gente. Sobrepôs-se a distância. Entre o silêncio e o monólogo com o qual entretenho as paredes com aplausos à vida.

Internamente festejo o rio que se fez Tejo e ter na mente uma onda onde nada me prenda. Do mar esperar o teu regresso para domares a braveza das marés. Para domares as feras que mendigam os teus mimos, o corpo das palavras inabitáveis, mas, irresistivelmente vivas!

Pudesses tu ser criança e ter o mundo como um eufemismo!

Quem souber, que me responda!!

Como pode o amor ser uma emoção perpétua, como? Ser caótico e criar uma realidade nítida, como pode? Ser revolto, extremo, punição absoluta, puro, impuro, tímido, infinitamente tímido, derradeiro, desumanamente impetuoso, obscuro, fresco, aceso, vacilante e insuperavelmente amar-go se todas as qualidades atribuíveis ao seu charme te parecem sujeitas ao envelhecimento? Quem souber, que me responda. Oxalá a fractura da viagem não nos arranhe e nem arrepie os sentidos, tomara que o esquecimento não seja a única recompensa, oxalá as palavras consigam ilustrar um combate saudável e arrojado com o enigma que nos convoca a costurar todos os dias um pouco da nossa fractura de esquecimento. Oxalá o futuro não vire costas ao passado e que o presente seja magistralmente, nem mais nem menos, uma emoção perpétua!

terça-feira, 8 de abril de 2008

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Luzes, câmara, acção!!

Não fui eu que cuspi a saudade pelos poros da tua língua. Não fui eu que te consolei com pseudo-carícias perdidas no arco do violino que jamais soubeste manejar. Não fui eu que te estendi a mão. Estendi um abraço e de tanto apanhar sol, secou. Não fui eu que te amei. Não! Não fui. Foste pedaço de sonho. Personagem secundária do meu enredo. Esta película poematográfica de ilusões em exibição no eterno cinema da minha cama onde sou o realizador das tuas insónias e o telespectador do meu sono. Não fui eu que avariei os teus sentimentos depois do divórcio. Depois do penúltimo suspiro à beira da infidelidade. Depois de descobrirmos que nada tínhamos a ver um com o outro além de sermos dois desconhecidos a partilhar o mesmo leito. Não fui eu que te fiz chorar ao esconder a tua identidade debaixo de água para que submersa em futuras memórias minhas fosse amnésia. Não! Eu não fui.
No fundo do posso esqueceste que só eu poço alterar a ordem incontornável das palavras e simular equívocos na gramática do teu raciocínio e desentupir as artérias dos esconderijos que injustamente te escondem do palco e disparar um grito sem adulterar o som do seu eco irrepetível e engolir os teus assobios nocturnos e remastigar a saudade como um oleiro a rasgar uma fatia de barro e entrar num confessionário e não ter senão uma única palavra para dizer: Sim! Sinto-me dono das minhas alegrias fulgurantes e das outras insinuações também. Sim, cometi o delito premeditado de não te chorar e de me tornar intuitivo e quebrar as arquitecturas dos teus caprichos e remover-te daqui para bem perto e ser trágico como a imperfeição de existir e magnânimo como um bicho teimoso a refilar com a monotonia e ousado diante de ti e fecundo diante da vida e não ter principio meio e fim e não me repetir nunca, nunca, nunca. E já agora, que se lixem os trezentos e não sei mais quantos dias do ano. De ti, só quero um minuto. Para te esquecer!
Corta!! Pára tudo!! Desliguem os projectores!! Desmontem o cenário!! Acabou. Não filmo nem mais um segundo deste espectáculo cujo seu próprio destino não domina.

terça-feira, 1 de abril de 2008