A prática da poesia, fora dos seus moldes habituais, decorre da intenção de a agarramos em fotografia - essa eternidade provisória na qual tentamos perpetuar a vida, esticando ponteiros de relógios como se a natureza do tempo fosse meramente elástica. Neste contexto, fotografar serve, sobretudo, não para petrificar instantes, mas para acompanhar a trajectória da poesia na sua fuga do papel para outros suportes tais como pedras, bocados de madeira, tijolos, parafusos, esferovite, fósforos, água, botões, etc.
É necessário colocarmos o dia que hoje se comemora no plural. Temos o hábito absolutamente desprovido de sentido de “hojificar” as pessoas apenas quando desaparecem, quando já são de “ontem”. Mas hoje, não é apenas o dia de enaltecer a poesia de ontem, hoje é o nosso dia, o dia de todos os que lutam de metáforas em punho, em legítima defesa da Vida e da Palavra. Falamos desses homens e mulheres que, não obstante se confrontarem diariamente com a escassez de oportunidades, cumprem a missão de “coagir” os outros a sonhar. Quanto a nós, esta é a razão essencial do poeta, “co-agir” os homens a transformar a inquietação em “inquieta-acção”. O sonho, só possível através da poesia.
Poetas não são apenas os que vendem poemas e recebem troco de infinito, mas aqueles que não se rendem apesar da falta de versos para comprar o pão de cada dia, aqueles que transformando o tumulto íntimo em arte, superam a condição humana de espectadores , “loucurando-se”, isto é, curando as feridas da lucidez com a própria loucura. A obra.