Desaparências
Das noites em que meço a respiração dos pulsos com o lado mais macio dos teus cansaços. Das tardes em que bebo granizo pela boca da chuva e oiço a voz entornar-se gota a gota no chão descalço dos passos andados. É só disto que sei dizer. Mesmo quando quero expoesiar-me dos meus próprios gritos e romper palavras sem mais nem menos. Ir à toa com asas de quem fica. Ir sem caminho e apanhar-me de surpresa antes de ser engolido pelo teu abraço. Descalçar girassóis pétala a pétala até se transformarem em giraluas. Descascar versos gomo a gomo como se fossem sabor de laranja. Ir a sós com beijos insaborosos mostrar que nós também sabemos sorrir. À noitinha. Quando a dor meço com o lado macio dos cansaços. É disto que sei dizer! Quando a mansidão se impõe como um ruído sísmico. Só assim consigo escrever. Descascado e sentimentoso. Eis porque me lambuzo com bocadinhos de fome e vou embora de ti para voltar nunca mais ou no penúltimo verso depois do amanhecer. Eis porque apanho balanço para relampagar o céu e faço rascunho antes de pôr sentimento no coração e semeio pétalas onde só existes um pouco só. Por isso. Apago. Risco. Volto a dançar com palavras. Arrisco de novo. Assobio cítaras. Enfio sonhos uns atrás dos outros. Desenho um mapa na palma da mão. Desafio-te a usar silêncio para ser poeta ainda que disto não saia nada que sirva para enxugar aquela voz entornada no papel. Desafio-te a pintar os lábios com a cor dos meus beijos. A colocar legendas nos gestos que me queres dizer ou transmentir. A respirar o fôlego de cada frase como se isto fosse de prosa e não um poema. Desafio-te! Desafio-te a encontrar de novo um novo caminho que te encontre. Caso contrário. Que farei com a poesia se de tanto te dizer adeus as mãos acabarem aqui? Que farei?! Que farei com este corpo que me resta se não regressares (pelo menos) para te dizer cara a cara que afinal não sou alérgico ao silêncio? Que farei de mim se depois da bonança não sobrar sequer vestígio de alma para te acalmar? Agora. Pergunta-me como te chamo! Faz de conta que és metade de ausência e farei de ti meu sono preso por um fio de insónia. Pergunta-me como te chamas. Chamar-te-ei prosa poesíssima! Chão em que me deito. Devagaroso. Entre verdades e fantasiação. Porque é disto que sei escrever! É isto que me desaparece da frente quando invento lagrimações só para tornar a solidão mais convincente. É isto que me aparece como se alguma vez tivesse escrito sem sinais de pontuação. É disto que sei escrever! Desaparências. Coisas que varrem nos poemas o que neles não deve iludir.
30 comentários:
Passei aqui!
Ler-te é um fascínio!
Beijo.
Gostei muito.
Abraços.
"Porque é disto que sei escrever!"... e como sabes! Escrever disto!!! Um estilo único, marca inconfundível desse ser magnífico que se dilui em palavras... neologismos de TI.
O nosso beijo, querido Eduardo, na mais profunda admiração.
Boa noite,
Deixei-lhe um prémio no meu blog.
Espero que o receba com alegria.
Bom fim-de-semana.
Não tenho palavras para dizer o quanto gostei do que acabei de ler.
Obrigada.
De como se pode apresentar uma filosofia de criatividade em jeito de conversa. Luminosa. Inspirada. Inspiradora.
Parabéns, Eduardo, com um beijo
Amigo!
O seu texto é bom!
Escrito de dentro, com sensibilidade
e verdade.
Um forte abraço.
gostei do texto
beijos
"Chamar-te-ei prosa poesíssima! "
Que comentário posso escrever que tente pelo menos "igualar" o que avidamente li
Se cada palavra sua é uma descoberta, se cada frase sua um poema.
Adorei como sempre!
Um abraço
Às vezes gostava de escrever assim... como se parecesse fácil, mesmo não sendo.
Um abraço :)
PS: Deixei um miminho para si lá no meu blogue.
É disto...que quero ler e tu sabes...
Obrigado...amigo. Um abraço!
Prosa póetica... está impregnado o lirismo em suas vestes, embora as palavras sejam desnudas!...
Adorei!!!
Abraços carinhosos =)
Fascinante.
Que nunca lhe doam
as mãos e a voz
"Desaparências", a varrer o poema de «só para tornar a solidão mais convincente»...
"Desaparências", noites idas de cansaço adormecido, nomes apagados no mapa das mãos, pétalas semeadas de silêncios e sonhos difusos, ausências, as ausências, e as desaparências de que tão bem falam as tuas palavras.
abraço.
Gostei deste texto... Leio-o confusa, mas consigo perceber a confusão. :´)
Mesmo afastada sempre leio mtas vezes os melhores…
…
Faz de conta que nem li…
Pelo Belo pela criatividade….
E tanto talento …
…
!nfinito beijinho
Edu, querido!
Comecei a separar as frases que achei de impacto e parei. Parei porque comecei a perceber que estava separando quase o texto inteiro. Ah meu amigo, que coisa mais maravilhosa esse texto. Arrepiante de lindo. Tirei um trecho (sem sua permissao) para coloca-la em meu blog.
Demais...muito lindo.
Beijos carinhosos
Mary
This will astonish you!
ZEITGEIST: ADDENDUM
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AMAZING!!
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Flouride in water
Não tenho palavras, só tu és o dono das palavras, o arquitecto, o artista, o Senhor Absoluto!
Beijos.
Precioso Amigo Gigante do sentir:
Sabe, maravilha e encanta em tudo o que faz e é.
Escreve de forma perfeita e divinal.
Parabéns, pelo seu génio fabuloso no dissecar as palavras que faz o que quer delas com beleza imensa e enorme.
Abraço amigo bem forte de respeito pelo seu Ser Humano de Excelência que é e significa para todos nós.
pena
Notável, amigo.
Adoro teus escrito ... tua intensidade é apaixonante ...
bjos ...
^.^
Gostei deste texto feito de palavras avessas que se desfazem em descargas eléctricas e nos sacódem a alma.
Genial Amigo:
As suas palavras são compostas de ouro puro porque brinca constantemente com elas num fabuloso sentir.
Abraço pelo seu talento num intelecto deslumbrante.
Abraço amigo de sempre.
pena
Notável, precioso amigo.
D
E
S
C
O
N
C
E
R
T
A
N
T
E
Pronto!
Beijo
G...
oi fascinada tu não escreves tu vives cada letra que ai deixas
marcas cada linha com ira com garra emoção escreves com alma da para sentir em cada traço do teu poema maravilhoso beijos obrigada pela visita amei teu blog
E sabes escrever lindamente!
Beijos, Fátima
sem palavras... adorei!
J
Pois eu disto não sei escrever... e gosto tanto...!
Maria
não sei o que farás mas hoje é o dia em que eu te digo aDeus
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