Agarra-me! As palavras doeram-se. Por agora o poema é o lugar onde adormeço quando não consigo escrever o sono. Agora é inútil engolir versos como se fossem beijos. Em seco. Em delírios que se curam à chapada. Em poesia que poisa em nós quando o mundo não está. Em carícias silvestres que te arranco das mãos para plantar na pele da água. Em poemas que falam quando os homens neles se calam a si próprios.
Por tão pouco.
Envolvo nos braços o abraço com que me agarras. Rastejo rios como se fossem um Tejo à beira dum sentir ausente. Enrolo-me nos dedos por onde masturbo noites como se fizesse amor na véspera do infinito.
Por tão pouco.
Parto a voz em pedaços de música como se os poemas fossem fios de água morna caindo pingando vertendo em gotas de areia. Trinco bolas de sabão de tão querer buscar-te sonhar-te dançar-te desejar-te loucuramente. Tanto. Meus Deus! Tanto.
Por tão pouco.
Existo-me de um lado para o outro. Ponho canções nestes lábios que se entrebeijam em valsa convulsiva. Bebo-lhes o tinto e o fruto. Devoro palavras até atingir a embriaguez. Com alento. Com força. Contudo. A poesia não interessa quando a solidão se entorna maior do que versos dentro da boca.
Por tão pouco.
Quantas cócegas irás sorrir de mim quando a realidade te coagir a devolver as alegrias que a ilusão te emprestou? Não sei. Invento-me como se fosse Outono. Faço folhas cair desengonçadas ao cair do dia. O ar agita-se impetuoso mas é dentro do peito que se faz mais. Mais incompletamente. Mais uma inventania de frases em direcção ao não sentido. Por tão louco sentir que é teatro.
Por agora. As palavras amaram-se. Outros lançam traços de tinta contra as paredes para escrever auto-retratos. Quando muito desenho auto-poemas e ainda não lancei nada. Mas não me queixo de barriga vazia. De poesia estou eu cheio!
Por tão pouco.
Quem me dera desinscrever-te na memória. Saltar o muro dos teus murmúrios de um momento para o outro. Pedir-me em namoro dos pés à cabeça sabendo de antemão que a resposta virá depois do esquecimento. Pedir-te que sejas névoa lume casulo nódoa de espuma que florescéu azul. Cansar-me de rascunhos sobre nós e começar a escrever sobre viver.
Por tão pouco.
Quem me dera alugar os teus olhos para com eles inventar outro espelho. Ser todo imenso. Todo verso de uma ponta à outra. Recém-nascer dum parto qualquer e escapar por ventre aspas e asteriscos. Chegar ao fim desta estrofe. Aninhar-me no colo das metáforas só para ver as palavras sorrir.
Porque na verdade. Elas sorriram-se! O poema é o lugar onde vamos acordar quando um dia conseguirmos escrever o sono.
Errata Onde se lê agarra-me, deve ler-se h-rra-me. Onde se lê embriaguez, deve ler-se embriagaguez. Onde se lê alento, deve ler-se além-tu.
52 comentários:
Amo o que escreves! As imagens fazendo parte dos poemas, os poemas das imagens...
Lindo!
Por tão pouco...,
loucuramente tanto!
Não há palavras como as tuas!
Beijo
O verso derradeiro da sua prosa poética é de matar.
Muito bom!
Abraços.
a rre ba ta dor!!!
(estás apaixonado?)
«Aninhar-me no colo das metáforas só para ver as palavras sorrir. » - adorei.
és dos meus escritores predilectos, nada a fazer...bj mt grnd
O meu amigo veio cheio de garra e poesia.
Único por aqui. Parabéns!
Um abraço
Fê
Erratas tão belas quanto todo o conteúdo poético!... Intenso!!!
Abraços carinhosos =)
Meu querido amigo
Simplesmente belo o teu texto.
Solidão e poesia, ligadas sempre.
Adorei ler o que tão bem descreves.
beijinhos
Sonhadora
Reincido nas leituras de ti, porque saber ler-te é um verdadeiro desafio.
E neste momento, acabei de descobrir que a tua errata, é um segundo poema, ou será no dia em que conseguires acordar no tal lugar com que sonhas.
És de facto fantástico no teu saber usar e abusar das palavras!
Beijos, Poeta!
Oh, Genial e Fabuloso Amigo:
"...Envolvo nos braços o abraço com que me agarras. Rastejo rios como se fossem um Tejo à beira dum sentir ausente. Enrolo-me nos dedos por onde masturbo noites como se fizesse amor na véspera do infinito..."
Simplesmente, de Excelência.
Parabéns. Soberbo e perfeito.
Abraço forte de uma amizade sincera.
Sem si a Blogosfera perderia imenso.
Com respeito e estima enormes.
pena
Inacreditável. Um talento admirável.
Bem-Haja, precioso amigo.
Adorei.
POARADOXAS
Uma exlente prosa em jeto de poesia
e o TEJO aqui tão perto, como se fora um largo poema.
Daniel
A re-invenção do modo de escrever o amor. E a vida. Por Tanto!!
O teu beijo aqui fica, admirando-te:))
Eu também parto a voz em pedaços de música... por tão pouco e por.tanto
.
saudades tuas.
Bjins
Pela embriaguez do poema feito vida.
Por tanto!
Abraço
Lindo como semper me encanta..
bjs
Insana
As tuas palavras que me entraram na alma, como ópio, como esquíolas lenhosas na cama deserta.
Voltarei a estes paradoxos, na cíclica água das marés...
"A poesia não interessa quando a solidão se entorna maior do que versos dentro da boca."
Metaforicamente poético =P
Muito boa escrita. Adorei.
SusanaSousa
Sempre adormeço nos meus poemas.
Infinito você é!
Não sei dizer da tua poesia... Ainda não soube inventar nenhum léxico para isso!
Amo-te!!
rsrsrrs... Grata pela visita e venha fazer-me companhia, segue-me... Quanta pretensão a minha!
Se querias encantar-me conseguiu! Aliás, emocionou-me com tuas lindas palavras. Impossível não lê-lo mais... e aqui fico, me instalo!
Um beijo com carinho e muito obrigada por tua presença linda em meu blog.
O último verso, ou melhor, a última frase poética é arrebatadora.
Fabulosas imagens!
GRANDE VERDADE, HEDUARDO: os dois últimos versos!
Adorei o teu comentário, adoro a irreverência da estrutura poética, da estrutura e da melodia.
ABRAÇO
LUSIBERO
NOTA DE LUSIBERO: "ESTRUTURA" ,na "2ª vez ,está ,desnecessariamente, a mais
Originalidade na forma de não escrever o poema escrito... Maravilhoso!
L.B.
Caramba!!!
Caudaloso!!!!
Viaja-se nos vários parágrafos!
Figuras mil, de linguagem!
Sabes como usar as palavras, e o fazes com bastante sentimento (que é, também, o que impressiona).
Abrçs.
Encantadaaaaaaa com o que escreves.
Sigo-te!
Um abraço!
Moço. ler voce é embriagante como um absinto!
As palavras se despem para voce, e posam de musas, enfeitando sua poesia...
Estou deveras encantada, e por aqui estarei sempre a ler-te.
beijos!
Olá amigo, belissimo poema, adorei obrigado por seguires o meu blog, vou passar por aqui mais vezes,
Um grande abraço.
Santa Cruz
Parabéns pelo blog! Onde reina a sensibilidade é mais fácil se empatizar.
Fiquei muito feliz com a tua visita, pois só assim aqui vim dar. Será um paradoxo? Ou apenas uma armadilha sã e doce para podermos assistir ao festival da arte? A tua pinta com palavras. A minha tenta as imagens... O tempo nos mostrará o percurso a seguir, mas o teu terá, sem dúvida,uma forte âncora em qualquer porto de abrigo.
Obrigada pela visita e adorei simplesmente o teu blogue.
Bem hajas
bjs
Isa
Ah e claro, ja te adicionei aos meus 3 blogues para que os meus visitantes também te possam ler. És um artista da palavra...
bjs
Por tão pouco... e logo o extremo
Como é de mania da Poesia.
Fantástico, virei fã!
Por tão pouco...é dizer muito...
Brilhante....
Gostei imenso...
Obrigada pela visita...
Até já
Beijos e abraços
Marta
Por tão pouco as palavras reacenderam a paixão.
ADORO!
comenta quando quiseres, sempre bem-vindo.
lindo lindo...
Olá amigo,
Suas imagens são tão convidativas quanto os textos que escreves.
Você encanta pelo conjunto,
Um abraço,
Dalinha
Muito belo. Por muito...
Obrigada.
não escrevo o sono, apenas o prazer de te ler
alugo os olhos e o sentir neste poema de palavras derramadas em mim
saudades de aqui estar...
beijos em deslainho
pasando para deixar uma boa semana.
bjs
Insana
Puro, lido num trago!
Um sentir que nos enleia...O pulsar das palavras...saborear-lhes o gosto. Belo, sim...
Beijo
um fabuloso poema entre a poesia e a vida.
uma forma de dizer que que o poema não é vida, enquanto for apenas lugar de adormecimento, de invenção, de teatro, lugar onde "o mundo não está", onde "os homens neles se calam a si próprios", onde "a solidão". uma maneira de dizer que poema só vale a pena se se tiver vida e poema deve ser vida, "lugar onde vamos acordar".
abraço.
POr tão pouco... o tanto que é!!
Beijito.
A poesia em forma de prosa... no seu melhor...
Excelente, caro amigo.
Abraço.
Paradoxalmente, e dando a mão à palmatoria, achei uma loucura descobrir estes "seus" escritos.
Agradeço o ter visitado o meu blogue.
O seu é lindo, cheio de continuidades, de eternidades, de inspiralidades, de centralidades entre as imagens e os textos...
em que as imagens são textos e os textos a razão do nosso "imaginário".
Bem haja. Dou um "pedaço de graça" por o haver encontrado. Oxalá eu saiba sempre voltar a este "trilho", apesar de, por vezes, mais parecer um "labirinto". Perder-me-ei por aí sempre que fôr possível. Prosai e poemai. Faça disso um "ofertório", um "oratório" muito especial.
Vou ver se "arranjo" tempo para ir lendo desde o início do blogue.
Construir poemas nas ruínas. Um atitude poética desde a concepção ao resultado. Indiquei suas imagens para as aulas de literatura de uma amiga. Fantástico!
Só o Teu v e r so... e o sono faz sonhar o poema…
...©em pa l a v r a para o sonho que só a Tua poes!a faz a almofada até a almo fada ter olhos abertos e mesmo assim sonhar…
O B E L O
Mto B E L O SEMPRE tudo o que escreves….
beijinho
Menino, que lindo isso. Talvez esse comentário seja "tão pouco", but in fact, é tudo o que eu tenho a dizer: "menino, que lindo isso".
Brigada pela visita aos meus Oráculos.
Um abraço "implosivo" d'além-mar! =)
és fabuloso na tua prosapoema
na poesia da tua prosa
porque não escreveste mais, aqui?
sim, a tua poesia nas pedras é excelente, mas a crescente ebulição do sangue ao ler-te em prosa deixou saudades.
escreve outra vez, aqui!
beijo
Vento
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