sexta-feira, 11 de abril de 2008

Emoção perpétua

Nas galerias da memória o esquecimento é única recompensa, o amor surge aparente sob a forma de uma fabulosa punição. Ultrapassas a mera condição de estranho. Atiras beijos em todas as direcções, continuas a desconhecer qual deles chegou inteiro ao destinatário. Escreves baixinho para não fazer barulho. Não vá o ranger do lápis despertar os esqueletos dos fantoches que desenhas na tua alegria paralítica.

O esquecimento, a tua muleta, porque há coisas que só são agradáveis enquanto apagadas.

Só existe um caminho para quem já se esqueceu que as pernas servem para voar. Voar do lado alado da rua.

Pois, andar para trás também é viajar.

Cultivo a recriação de um ontem, aqui, com as sementes do amanhã. Existo para te reconciliar com a tua solidão. Escrevo para me decifrar. Mas é a ti que encontro. O ontem ultrapassado é hoje mais uma ponte por atravessar. Não consegues estabelecer um diálogo sem que o dia logo anoiteça. Se houve palavras. Eram postiças. Se houve amor. Era inventado. Se houve sentimento. Era incompleto. Se houve sonho. Tornou-se realidade no intervalo da alma. Se houve tu e eu. Agora só existe eu e eu. Se houve gente. Sobrepôs-se a distância. Entre o silêncio e o monólogo com o qual entretenho as paredes com aplausos à vida.

Internamente festejo o rio que se fez Tejo e ter na mente uma onda onde nada me prenda. Do mar esperar o teu regresso para domares a braveza das marés. Para domares as feras que mendigam os teus mimos, o corpo das palavras inabitáveis, mas, irresistivelmente vivas!

Pudesses tu ser criança e ter o mundo como um eufemismo!

Quem souber, que me responda!!

Como pode o amor ser uma emoção perpétua, como? Ser caótico e criar uma realidade nítida, como pode? Ser revolto, extremo, punição absoluta, puro, impuro, tímido, infinitamente tímido, derradeiro, desumanamente impetuoso, obscuro, fresco, aceso, vacilante e insuperavelmente amar-go se todas as qualidades atribuíveis ao seu charme te parecem sujeitas ao envelhecimento? Quem souber, que me responda. Oxalá a fractura da viagem não nos arranhe e nem arrepie os sentidos, tomara que o esquecimento não seja a única recompensa, oxalá as palavras consigam ilustrar um combate saudável e arrojado com o enigma que nos convoca a costurar todos os dias um pouco da nossa fractura de esquecimento. Oxalá o futuro não vire costas ao passado e que o presente seja magistralmente, nem mais nem menos, uma emoção perpétua!

52 comentários:

Odilla disse...

Também quero respostas!

Mas escrevestes muito bem e eu gostei.

Beijos

Justine disse...

E eu responderia, como um eco, uauuu, as tuas 12 palavras! Que fulgurante poema de amor!
E uauu também para este post aí ao lado,texto de dúvidas e de esperanças, como a vida.
Bom fim de semana
abraço

Heduardo Kiesse disse...

Odilla

As respostas residem no nosso universo interior, nesse descortinar paulatino da aurora da vida!

Grande beijão!

Heduardo Kiesse disse...

Justine

De facto, foi um dose de palavras muito interessante, gostei de participar, digo mais,
foi uma over12 de ternura e carinho!

Fim-de-semana bom pra ti também!

Pena disse...

Estimado Amigo:
Possui um enorme talento e delicia de sentir as injustiças que, por vezes, a vida nos dá.
Excelente.
Escreve com uma garra poderosa. Brilhante.
Adorei!
OBRIGADO pela visita.
Um pormenor importante porque a minha virilidade fala mais alto: em vez de "beijão, ponha algo masculino: "abraço" sei lá ou outro cumprimento, mas "beijão" é ofensa. OBRIGADO e DESCULPE!

Abraço amigo de sinceridade e estima
O AMIGO

pena

MARIA MERCEDES disse...

Enquanto a onda de probabilidade da emoção perpétua não colapsar, ela existe naquele estado indefinido de talvez sim ou talvez não!

beijinhos quânticos

Heduardo Kiesse disse...

Pena amigo

Lamento o lapso. Foi uma falha minha. Longe de mim atentar contra a tua masculinidade.

ABRAÇO! :-)

Heduardo Kiesse disse...

Maria Mercedes

Talvez SIM!
Sim, talvez a onda da probabilidade da emoção perpétua dure muito mais, muito mais do que uma efémera paixão qualquer.

Sem lapsos, beijão grato :-)

Kênia Garcia disse...

Belas palavras e reflexão!
Adorei.

Beijos e um belo fim de semana pra ti!!

Benó disse...

Olá! Boa participação no jogo das 12 palavras. Os meus parabéns!
Gostei,aliás, de todos os trechos do Paradoxo.
Vamos continuar?
Bom fim de semana!
Seja Feliz!

Eme disse...

Pradoxalmente até são as memórias que se esquecem de nos esquecer.
E não é invulgar quando se escreve mesmo sem intenção colocar entre linhas e nalgum espaço uma réstia de algo esparso na memória que por muito que se queira enxotar precisa de ser relembrado. A cada vez talvez com cada vez menos espinhos, mais suave ao toque, menos dorido na alma.

Um beijo

Val Du disse...

Sr. Paradoxos: O homem das palavras. :)

Um beijo

Nilson Barcelli disse...

Olá, obrigado pela tua visita e comentário.

Tal como tu, também fui participante do 1º jogo das 12 palavras do Eremita.

Depois de ler o teu texto, resolvi dar aqui um saltinho para te dizer que gostei.
Aliás, todas as participações são muito boas e algumas até são excelentes.

Não conhecia o teu blogue, terei que ver melhor...


Bom fim-de-semana, abraço

~pi disse...

da palavra

/e não das

palavras


e porém, nada sei...

ROSASIVENTOS disse...

para sempre sempre apesar

cada instante

Anónimo disse...

Tanta pergunta, já pareces eu:)
Tmb eu gostaria de ter essas respostas...
Se a tua memória for como a minha, terá tendência para com o tempo apagar as coisas más...(lá está o sr.Tempo como dono e senhor de tudo!)Até lá, é uma chatice eu sei...

Incrível como a cada texto te superas! Maravilhoso!
Beijo e bom fds*

Anónimo disse...

Este texto é uma emoçao perpetua do inicio ao fim,algo que nem o esquecimento consegue atinguir.
tu voas quando escreves e trazes para terra o mais belo que encontras!
O amor é uma emoçao perpetua quando habita num coraçao que o sabe valorizar.
Luisíndia Caetano.

Luis Ferreira disse...

Li e reli este teu texto e só poderei dizer...

Muitos parabéns.

As tuas palavras descrevem sentimentos em ecos de magia.

Um abraço com amizade
Luis

Anónimo disse...

Respostas? Quem as terá para conseguir uma "emoção perpétua" para dar de presente?

Ah, quem sabe o segredo está em apaixonar-se muitas vezes e sempre pela mesma pessoa...

Bjin

mac disse...

Olá, vim aqui retribuir a visita. Este é um belo texto, não haja dúvida...A vir cá mais vezes.

Fabrícia Meira disse...

As palavras são a varinha mágica dos ilusionistas que recriam a vida e nos deixam sem perceber onde acabou a ilusão e onde a realidade nunca existiu.


adoreeeei x)

lindaoa qui HAHA.
posso linkar!

anamarta disse...

Como gostava de saber escrever assim!
Do mar esperar o teu regresso para domares a braveza das marés.

Excelente texto! obrigada pela partilha.
um beijo

Zé-Viajante disse...

Participar no 12 Palvras foi (será) gratificante.
E conhecem-se novos caminhos.

djhasd disse...

grande reflexão...

quanto as respostas... todos andamos a procura delas..

abraço =P

Heduardo Kiesse disse...

Kênia Garcia

Obrigado por teres vindo povoar o meu albergue com as tuas palavras amistosas!

um beijão grande!

Heduardo Kiesse disse...

Benó

Continuar é o caminho!
Vamos pois!!
Só custam os primeiros 12 passos. agora é sempre a doser :-)
o teu texto também está uma excelente dose de beleza!

Heduardo Kiesse disse...

M.

:-) Não tenho vocação para me deixar sucumbir facilmente pelas ameaças internas ou externas da vida.

Os espinhos transforma-mo-los em ex-pinhos, espinhos que já não sao.

OBRIGADO pelo comentário em formato poema, tá poderoso!

beijão :-)

Heduardo Kiesse disse...

Val Du, Lady

É com entusiasmo que te recebo. Estás sempre cá dentro, no lado esquerdo :-)

Heduardo Kiesse disse...

Nilson Barcelli

Foi uma experiência em GRANDE, positiva! GRANDE Eremita!!
Vou vasculhar o teu, prometo :-)

Heduardo Kiesse disse...

~Pi

Nem eu.

Estimo cuidadosamente a minha ignorância. É ela que me mantém curioso :-)

BEIJINHOS amiga! obrigado

Heduardo Kiesse disse...

Rosasiventos

Para sempre em cada instante, um toque de esperança!
beijão para sempre e outro para ti :-)

Heduardo Kiesse disse...

Xinha


Por estes andares são mais as dívidas do que as dúvidas.
beijão com muita dú-vida!

(subtrai a sílaba "dú")

:-)

Heduardo Kiesse disse...

Luisíndia Caetano

O fabuloso está em mutiplicar... mutiplicar e fecundar para além do "rapidinho" daí, surge a emoção perpétua, que se deseja perene!

beijos em emoção, tua!

Heduardo Kiesse disse...

Luís F.

Obrigado por partilhares comigo estes trajectos de leitura :-)

forte abraço, volta sempre!

Heduardo Kiesse disse...

Perla

Todas as respostas prováveis vêm de um modo indefinido. São interrogações engenhosas, construções de inquietude que exigem bravura!

beijão em liberdade perpétua! :-)

Heduardo Kiesse disse...

Mac

Espero pelo teu regresso!

Fica bem! Mas volta ainda melhor
:-)

Heduardo Kiesse disse...

Fabrícia

Essa frase, escrita em 2004, por aí, foi o que sobrou de um poema que rasguei por não ter o peso e a inquietação que gosto de injectar nas minhas verbalidades.

"As palavras são a varinha mágica dos ilusionistas que recriam a vida e nos deixam sem perceber onde acabou a ilusão e onde a realidade nunca existiu!!"


Obrigado por te visitares em mim, aqui!

Heduardo Kiesse disse...

Anamarta

Acredito que de semelhante forma consegues lançar a tua inspiração contra o papel e recriar, reinventar a realidade como te apetecer...

Mesmo que a única resposta seja outra interrogação :-)

beijão Marta

Heduardo Kiesse disse...

Viajante

Aproxima-se a segunda 12

Vamos la ver se tenho respiração pra escrever, com fôlego :-))

abraços inspirados

Heduardo Kiesse disse...

Oxyder

Há perguntas que servem só pra iludir, pra criarem a ilusão de uma justificação, ao contrário das perguntas das crianças, os adultos quando não querem responder, perguntam, mesmo sabendo da inexistência de respostas pra tudo.

sei la eu.

abraço amigo Oxy 45

MS disse...

... ninguém pode ter resposta para um sentimento tão 'intimo'!

Mas tu 'pintaste' com palavras um lindo poema de afectos!

'...Oxalá o futuro não vire costas ao passado e que o presente seja magistralmente, nem mais nem menos, uma emoção perpétua!' - assim seja!

Sensibilizada pelo olhar amistoso poisado em 'fragmentos'!

Boa semana!

Alma Nova ® disse...

Belo poema de amor, onde dor e sofrimento se misturam com a incomensurável grandeza desse sentimento único!

Jo disse...

oxalá!

excelente a tua reflexão. visceral.

:)
beijo*

nd disse...

Uau!!!!!!!!!

Um domingo de beijos e não beijei ninguém, próxima vez, talvez.
bjs

Sérgio Figueiredo disse...

Puxa meu Amigo,

Que carinho tens em bem tratar as palavras. Post maravilhoso carregado de "sentires" e de "sentimentos".

Parabéns cumpriste o objectivo.

Um Abraço

Lis disse...

Podendo.E pode mesmo.

Anónimo disse...

xhum.. q texto fantastico!

sonjita disse...

Momentos passados que fazem parte de nós e que jamais serão esquecidos. POr vezes tentamos cerrar os olhos e afastar o pensamento para outro horizonte mas não há nada a fazer quando um perfume, uma imagem ou um som fazem despertar a memória...
Lindo o teu texto...
BJokas grandes

Carla disse...

também ue queria essas respostas...também eu queria não conseguir entender cada uma das tuas palavras...também eu queria que o esquecimento não fosse a única recompensa...
mas parece que o que quero não tem realidade palpável, por isso para te dizer que mais uma vez adorei o teu texto
beijos

Eu sei que vou te amar disse...

Eduardo intenso, profundo! Adorei a tua escrita, a sensibilidade de colocar em papel as tuas emoções tão bem descritas!
Parabens pelo excelente blog e obrigada por teres passado no meu....

Lyra disse...

Por mais que lhe queiras bem, se essa outra pessoa fosse essa criança ainda, (essa que para ela docemente desejas) não poderia ser amada por ti, nem existiria a vossa história... E se a sua realidade e as realidades chocantes que a vida nos tráz fossem sempre suavizadas utilizando, para as descrever, palavras agradáveis, isso seria injusto para ti!

Beijinhos e até breve!

;O)

Poemas e Cotidiano disse...

"Oxalá a fractura da viagem não nos arranhe e nem arrepie os sentidos".
Fiquei a pensar nessa frase. Do arranhar dos sentidos, o "scratch" eu penso, cria um derivado do sentido natural, dando assim muitas pernas como um polvo...nosso sentido se torna vivo a procura de mais sentidos. De novas descobertas, dentro de um mesmo sentimento. E mesmo o sofrer nos leva a um outro "scratch" que nos ensina algo novo, meio morbido, ne? Mas me veio esse sentimento quando li sua frase.

Beijao!
MARY