segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Incólume

Agasalha a memória com lençóis de papel para não constipar a imaginação. Põe palavras ao lume e quando o poema começar a fer ver nos teus olhos troca-o por um doer mais brando e espalha cascas de ilusão em cada estrofe. Quero escorregar de sono e cair ileso nos teus braços. Mas por enquanto.
Por enquanto borboleta-me. Faz-me pousar lentamente sobre a paisagem que a si própria se vai desenhando no ar. Andorinha-me num voo sem peso. Fica comigo só mais um poema. Só mais um pé de aço de lenha. As asas. Essas não deites fora se na boca ainda tiveres bocados de solidão à procura do endereço dos meus lábios.

Aliás. Deita tudo fora! Sozinho-me bem sem ti.
Quero lá saber dos gestos suculentos com que despias noites enquanto me amordançavas os sentidos de um lado para o outro. Quero lá saber das vírgulas que não coloquei no coração por falta de espaço.
É o teu sonho que me interessa!
Mas sabes uma coisa. É engraçado como todos os caminhos se apagam quando os pés não sabem que direcção seguir. Do que dissemos só consigo lembrar este amo-te guardado entre a garganta e a voz que antecede o grito. Que antecede a chuva quando queres beber palavra e não encontras o copo onde largaste a sede. Quando queres digerir verso e não descobres o lugar onde a fome se esconde. De tudo o que dissemos. Ó amor. Só lembro vírgulas e no entanto ainda falta quilómetro e meio de ternura para que a vida se torne última morada das nossas memórias.
Se um dia nos envelhecermos um do outro. Pelo menos lembra-te que até as nuvens adormecem quando o peso do sono é superior ao da razão do choro. Lembra-te. Ninguém atrasa tempo a não ser para iludir os anos que traz diluídos no corpo. Ninguém boceja beijos que não deu se na boca tiver bocados de ilusão à procura de outra boca.
O agasalho emprestá-lo-ei a quem não tiver onde habitar o seu próprio vazio ao cair do sonho.
Descobre-me. Não te preocupes se a imaginação se constipar numa página em branco. Incólume.
Ninguém chega ao amor senão pela poesia!

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Quando te perguntarem o que é a poesia. Responde-lhes com poemas que tenham versos curtos. Que sejam límpidos e diáfanos e que não cedam a metáforas inúteis em pose de bom gosto!