terça-feira, 21 de abril de 2009

O Poema é sempre melhor que o Poeta!

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Opaco

Estação de Queluz-Belas, Linha de Sintra

Quando levo o sono para cama antes de fechar as cortinas descalço-lhe a raiz da insónia onde me deixo cair. E quando não caio nem no sono nem em mim sacudo o hemisfério esquerdo do meu peito para entender o som pontiagudo do grito que entalei entre os lábios. Quando não caio em mim mudo o perfume das glicínias que trepam à beira da queda. Ponho rosas a cheirar a papoilas. Rego orquídeas com água de açucenas. Desço à rua para emendar as letras maiúsculas do nome dos imbondeiros em chão de terra batida com bofetadas e outras carícias. Escrevo ilusões que não existem a cada esquina do poema onde a mão a caneta o papel a tinta e se não me engano a espada e a parede entre mim são hipérboles arrastadas ao abate.

O horóscopo virá responder por nós à tarefa de equilibrar o sonho com o braço enérgico de um acrobata embriagado. Digam-me de uma vez por todas. Por todas horas absurdamente em excesso de velocidade quando a ilusão é dolorosamente doce. Quantas pulsações são precisas para empurrar um corpo ao último pedaço de lenha por arder? Em que reclusório almofadado vos abandonei presos à liturgia do esquecimento? Quem virá sequestrar com a boca esta meia dúzia de beijos distorcidos nos lábios? Conseguirás sobreviver no mundo da lua e descer à terra sem escorregar na casca das palavras que atirámos para o chão? E os bocados de alma que descascámos? E os orgasmos esmagados entre as pernas? Quero lá saber!! Temos um emaranhado de respostas aos encontrões umas contra as outras. O desenlace. Sabê-lo-emos quando as palavras perderem o prazo de vaidade e na pele os primeiros vincos esmurrarem o último sorriso vivo.

De uma vez por todas. Não irei mais à caça de mim com armas de fogo-de-artifício prontas a disparatar poemas que fazem cócegas ou comichão no hemisfério esquerdo do peito. Vou com uma fisga. A palavra tece o seu próprio delito. O poeta está lá apenas para recolher as lágrimas. Ah! E desembaracem-me já estas longas tranças negras rascunhos de meia-tijela opacas linhas sujas resmungonas abruptamente rabugentas. Parem os batuques. Aliviem o som das sirenes. Enfiem uma vírgula neste sono que quer medir forças com o despertador. O nevoeiro passou. Estou apto à ressurreição. Deus perdoar-me-á assim como eu tenho perdoado os meus dias e a quem me tem alimentado com manjares de esperança e determinação na hora de viver para além da vaidosa mendicidade da poesia! Estou apto à vindima da minha infinita dança com edição limitada. Meti mais lenha no pensamento. Para não apagar. Soltei as canções que entalei entre os lábios. E cantei. Sorridente! Agora parem os batuques. Vá lá. Já dancei as estrelas. De uma vez por todas. Parem!! Parem com este silêncio! Não vou repetir o antes de ontem. Toquem longe daqui. Já não acredito em divórcios à primeira vista. Vistam a farda dos poetas e toquem bem alto até criar fissuras nos pulsos. Se o som tentar escapulir por entre os ecos e soluços. Pelo menos um acento na penúltima sílaba para lhe dar uma tonalidade grave. Pelo menos esta boca que canta insaciável em fome não sei bem de quê. Pelo menos só mais uma pulsação! Não há fada nem varinha para adiar o jeito indecifrável de ir.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

O que mais te agrada além de viver?