quinta-feira, 24 de julho de 2008

Poeticoterapia

Antes de folhear as flores pintadas de fresco. Arrumei os sentimentos no seu de vidro lugar para não quebrar mais nada. Mandei chamar os curandeiros da loucura para te ressuscitarem pelo menos na minha memória. Depois. Vasculhei o passado em busca do futuro sem temer a sobrevivência do presente. Remendei o coração com as linhas de um caminho-de-ferro. Desenrolei as pétalas substituindo-as por pérolas. Fiz-me vagabundo à lareira dos sonhos ao relento.

Depois. Muito além de nós dois. Descaradamente e sem asas nas algemas.

Cruzo-me comigo por mero engano nos intervalos do sono. Deambulo pelo quarto com uma caneta na mão pronta a disparar. Descarrego um poema apenas da boca para fora. A dor meço aos palmos como se fosse possível medir e calcular com a mão o comprimento exacto do teu odor. Meço cada centímetro do teu sentimento como quem se espanta por morrer pela primeira vez sem tempo para escrever a última prosa feita a base de extractos de poesia. Com alguns restos de nada e um pouco de pânico. Depois. Escrevo e escavo a terra. Atiro-me flores lá para baixo. Adormeço. Adormecendo a dor que não vem escrita no teu caderno de contos de fadas. Agora não me venhas dizer que é triste desejar loucamente manter os olhos escancarados à vida nem que seja à força.

Atreve-te a admirar o último raio de sol. A humildade nos gestos. A humidade nos olhos. Sim. Não vou ler o teu olhar. Também eu sou uma ponte a construir. Sobre a água. Ofende-me com os teus elogios. Também eu sou um analfabeto assumidamente em constante denúncia de mim. Impudicamente. Doente de esquecimento e infinito e esperança e carinho e de ti. E não de objectos como objectivos. O meu objectivo é o Ser. Ser inconquistável como um escândalo de sonho. Imperceptível como os ritmos quentes que fervem e remexem as ancas do mundo. E se quiseres despedir os meus murmúrios. Despe-te à vontade. Despede-te de tudo. Despe tudo e todos que o teu despeito levou. Despe-te de mim. Despede-te com aplausos. Depois... Tira tudo. Menos o coração. Vai. Vai-te em qualquer lugar nem que seja embora.

A tua doença é ter um abismo na alma perigosamente intransponível!!

Mas, antes de me desmascarares a flor pétala a pétala. Cura-me com o teu veneno. Não tenho vacina para nada!

Também eu sou um analfabeto da verdade que procuro.

Desconexos

Para quê complicar a essência do que é essencial para fazer um comentário?

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Subdoxos

A vida a dois é o formidável suplício que os solitários procuram!

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Subterrâneo

A ver vamos se ainda és capaz de desabotoar o meu corpo ao meio e devorar cada guloseima sem vergonha na boca. Não sentir nem de mais nem de menos. Ser de uma ponta à outra um monte de sonhos por resolver. Nem mais nem menos. Certeiro na medida incerta do futuro. Cem vezes as que nada sentiste. Cem poemas desinibidos sem rimas nem versos. Cem flores. Uma a uma. Caindo do céu até ao centro do teu arquipélago subterrâneo. Uma a uma. Sem tirar nem pôr. Sem atropelar as estrelas nem marcar o lugar do fim porque no fim e ao cabo tudo acaba. Até os pormenores por maiores que sejam os saltos altos da vida e os outros que usas nos pés. Sem vergonha na boca. Cuspir silêncios. Cuspir a alma torcida no peito. Fugir pelos atalhos e desfiladeiros do sonho à superfície dos sentidos. Fazer acontecer as palavras até ao limite dos gritos escritos em voz baixa por ainda serem incapazes de assumir as emoções quando esteticamente do avesso. A ver vamos se terás fôlego para me trazer inspiração boca a boca de olhos vendados. A ver vamos!! Rever as nossas imagens sem escrúpulos a gatafunhar e a borrar as folhas verdes que enfeitam a minha trincheira despovoada de ti mas com ilusões maduras. De carne e osso. Porque a vida é uma imagem com várias imagens. E nem todas nos dizem o que perdemos enquanto procuramos…