terça-feira, 28 de julho de 2009

Trava o mundo por um pouco
Ainda tinhas manchas de água salgada no corpo. Não podias engolir em seco tanto barulho e despertar versos noutro chão. Porque os poemas. Todos os poemas. Tu sabias. São minúsculos abismos de papel que doem até onde for preciso ir para irmos mais leves.

Depois. Esqueceste. Soubeste imitar o céu quando chove e esculpe gravuras de sépia na pele das falésias soubeste substituir trocadilhos retóricos de mau gosto e de beleza fácil pela verdadeira humanidade da poesia cujo universo é mais fundo substituíste o estremecimento das marés pelo flutuar sereno das gaivotas soubeste deixar ir pelo cano desgosto a rosa cor mulata que hoje é dolorosa ou outra coisa qualquer poemificável. Mas vou.

Entro pela outra face da vida real. Incendeio palavras de ilusão embora sem saber distinguir se são poemas com que vos mostro aquilo que amo ou apenas endereços errados que me mostram o caminho certo. Vou pela leitura adentro à procura de abismos e papel. Vou pelo desejo de detonar o céu limpo do lado de cá e sacudir o luar lá fora sem deixar adormecer as luzes que rebolam cá dentro. Vou mesmo com razões de sobra para me vergar à contemplação do que ficou. Vou.

Recortar a paisagem pela raiz corrigir endereços de lugares perdidos com princípio meio e um pouco de fim. Juntar dias separar noites na véspera do encontro. Ensaboar as palavras antes de as poemificar. Entrar pelo envelope da despedida adiar todas utopias e pulsos de um só gume que recortam frases amuadas de mão beijada. Calar o despertador que te levanta da cama só para mais uma estrofe catástrofe de metáforas que não são nem mais nem outra coisa senão paradoxos que nos vivem por dentro. Agora sim. Pára. Trava o mundo por um pouco e fuma-me o silêncio!!

Se te perguntarem pelo endereço da ilusão. Dá-lhes o endereço errado.

sábado, 4 de julho de 2009

Mesmo sem poesia nos bolsos para comprar o pão de cada verso. Mesmo desempregadamente no olho das ruas que me empregam partidas. Mesmo de prego em prego martelando as portas. Irei. Desocupado. Aprender mil línguas para te dizer um beijo!