sábado, 18 de outubro de 2008

Paradoxa

A imagem é tudo. Para quem não tem mais nada para dizer.

Pois então. Palavra após palavra. Vou. Fico. Arrisco. Levanto-me. Esperanço-me. Com a última espera a morrer. Escravo um poema. Um verso. Cravo em cada mentira uma verdade. Breve. Nervosa. Com a flor à pele dos nervos. Grito. Alugo a alegria à hora. Encosto-me à jenela. Nela sinto o naufrágio das gaivotas. Em sobressalto. Susto. Cuspo-te pelos olhos. Cegos de promiscuidade. Obscenos. Como a invaginação fértil quase nocturna. Da paradoxa que me incendeia os pensamentos nas horas desabitadas e vagarosas e atrasadas e frias.

Porque de boas intenções está o inverno cheio.

Meu Deus!!! Dá-me vida dentro do sonho. Soluça-me os sentidos para me passar o susto. Não apagues a ilusão. Nem a bússola que me desvia. Sou de ti. Aquele que de ti é o mais teu. Cortei o revólver aos bocadinhos. Devorei à queima-roupa todo o teu vestuário. Num terreno baldio. Queimei as lágrimas. Palavra após palavra. Fui. Fiquei. arrisquei. Esperancei-me. Fui contigo pelos infinitos do teu horóscopo. Inútil. Inutilmente errado. Arrisquei. O descaramento de convocar um exército de sonhadores para simular um atentado poético na tua inspiração.

Porque escrevo. Para perder tempo. Porque vivo como quem desenha nos pulsos uma lâmina sanguínea suja de ciúme.

Porque amar ela é nunca me ter amado. Porque amar ela é anestesiar-me em todas as direcções dos meus sentidos. Amarela é a cor de mim e dos meus vestígios. Amarela é a cor do arco-íris que pintei nas folhas de rascunho vinte e quarto dias por hora à procura de uma ama onde deitar os restos do nosso cansaço entre quatro paredes oblíquas.

Para quem não tem mais imagens para dizer. A palavra é tudo!

domingo, 5 de outubro de 2008

Caminhos escritos à mão

Enfeitarás o coração com sentimentos presos fora do comum acreditando desesperadamente que é possível endireitar o destino com uma varinha mágica. Custe o que custar. Agarra-te. Não me deixes cair fora do túmulo do poema. Sacode-te!!
Escreve mais um copo para esquecer. Só mais um pouco desta loucura essencial ingerida aos tombos. Mais um caminho que termina amanhã. Só mais um corpo com sono de viver.
Quem ama assim as nuvens é inevitavelmente um dá dor de palavras. Eu sou simplesmente um dador de sangue em estado sólido. Custe o que custar. Não me deites fora. Deita-me dentro. O corpo é irrepetível por mais que o plastifiquemos. Uma desordem no equilíbrio dos pilares da ingenuidade e do tempo de ser sem tempo. Um chamamento vagaroso sem resposta para o fim. Custe o que custar.
Que não te custe muito não me deitar fora. Deita-me. Fora do comum. Fora da lei. Fora daqui. Do poema para fora das palavras. Das palavras para fora do silêncio. Do silêncio para fora da tua boca. Deita-me. Adia a ousadia da noite. Não adianta trancar os olhos. Adiantei os ponteiros do relógio para trás. Custe o que custar.
Serei sempre o primeiro a não entender nada do que escrevo. E o último a engolir estrelas escritas à mão.
Fora do comum. Fora deste fragmento autografado que te ofereço. Como se fosse uma fotografia de mais um sonho embrulhado na tua mão. Custe o que tiver que ser. Serei sempre um dá dor de sangue do universo do teu não querer. Custe o que custar. Se temos que sorrir então que doa de uma só vez.

Pedir aos pássaros que regressem contigo dos céus não é senão pedir em vão asas para continuar a cair!!