quarta-feira, 18 de junho de 2008

Hipérbole

Apaguem as minhas impressões digitais no corpo desta idosa meretriz com a qual entretenho a insónia nas noites em que nego a aceitação de mais uma negação. Arranquem-me das mãos o papel e a caneta e as emoções e eu calar-me-ei. Prendam-me a língua e as cordas vocais e as veias e os lábios e os dentes para não trincar nem mais uma palavra. Assaltem-me a inocência. Prendam-me que não sei o que falo.
Nego...
Nego o teu castelo com arame farpado à volta das muralhas para que depois do arrepio mais ninguém se atreva a te fazer salivar dos olhos. Amarrem-me ao amor e soltem os vossos beijos e saltem e sintam como sou frágil como uma rocha pois cansei-me de te lançar disparates agora simplesmente pretendo disparar um beijo à distância tendo como alvo a tua boca. Falem-me que não sei o que prendo no coração que nego. Levem daqui o papel e a caneta que eu me calo. Calem-me as mãos e os dedos ainda assim vou gritar que não quero acabar aqui. Que não estou fora do prazo de validade para me amares aqui. Que aqui o olhar é negro quando o adeus marca a hora que nego.
Levem-me...
Prendam-me que não sei quem me ama. Beijem-me. Arranquem-me daqui. Nego quebrar outra vez o espelho em estilhaços mil de ternura. Chorem-me com gargalhadas de entusiasmo se me quiserem acordar. Chorem-me às escondidas. Entre quatro paredes. Quando mais ninguém existir ao teu redor além de ti e do teu travesseiro. Quando não mais precisares de sorrir apenas para fazer ginástica facial. Ressuscitem-me. Não tenho por quem esperar. Espero por mim. Ninguém vai bater à porta. Batam a porta em mim. Irei abrir mesmo sem nada para dar em troca ao silêncio. Deixem-me entrar ao menos para procurar o juízo que perdi nas reticências da tua loucura. Para te salvar dos lapsos da minha memória e do tal romance que atiramos pela janela connosco lá dentro trajados de amantes à paisana. Negro o teu semblante dinamitado com algodão doce. As palavras que lanço no fundo negro desta página. Nego a lâmpada fundida das mentiras de ontem visíveis na verdade de hoje.
Rápido...
Prendam-me que não sei quem amo. Prendam-me. Virei a página mas o livro é o mesmo. Mudei o amor mas não o lugar do coração. Prendam-me cá fora. Não quero acabar dentro sem engolir por fora a revelação do que fui. Tranquiliza-te mesmo que não compreendas por que razão deixei as minhas impressões digitais na tua língua. Ninguém vai bater à porta. Ninguém vai perguntar a data de nascimento da tua solidão. O número de identificação dos teus sonhos. A matrícula do teu passado. O nome completo do teu coração. O estado civil dos tendões do teu pensamento. Ninguém vai. Enquanto me entreter a fazer festinhas ao tempo à paulada. Porque o tempo que engoliste sem saborear as horas e os minutos e os segundos mais ninguém vai usá-lo. Nem para pano de limpar o chão.
Não nego que me levem... Mas...
Prendam-me que não sei quem me chama. Amarrem-me ao amor e soltem aplausos. Soltem cânticos de esperança. Da maresia das falésias. Dos murmúrios dos rios. Do aroma das frutas que desfrutas. Das florestas e bosques onde há pássaros soltos em voos de nunca mais voltar pois há febre nas palavras mas é liberdade este amarrar de vida com cordas vocais. Mesmo que não concordes comigo. É livre este amar de não saber.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Prazeres imperfeitos

Se pedir a verdade é pedir demais, ao menos, injecta-me um tranquilizante antes de abrires o coração. Espreme as minhas lágrimas até ao limite do teu sorriso e ainda que chores, não será demais, entornar uma luz no caminho onde tiveste a primeira convulsão fraternal com ligeiros ferimentos numa esquina qualquer da tua solidão.

Se pedir as estrelas é mendigar demais, ao menos, seduz-me com os teus dedos com feições de lâminas a escrever sobre a minha pele - Que nada mais temos em comum senão o facto de ambos sermos diferentes.

Depois… Apaga a luz!! Vou procurar no escuro o astro dos meus prazeres imperfeitos.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Não me importo de viver a ilusão desde que a realidade nela contida me traga um golpe mágico de felicidade enquanto durar a embriaguez.
Em que lado da alma a comichão é maior?
No homem que não tem sentido de humor ou na mulher que já não vê sentido nenhum no amor?