quarta-feira, 22 de setembro de 2010

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Acabou-se-me a tua ausência. Instante que se prolonga corpo inteiro como um barco-íris à deriva no céu. De agora em diante. Além dos três litros de solidão que guardei na dispensa não sei com que versos completar as noites em que respiro à custa de poemas. Quando estou a sós com as palavras e concretizo futuros para te dispensar em pensamento.
Beija-me ficar aqui sozinho!
Porque um verso basta para emagrecer o grito submerso na tua garganta. Um retrato é suficiente para te aproximar do meu coração nem que seja só por amor.
Mas beija-me ficar!
Prosa não é haver caminhos que surgem para te capturar e desarrumar memórias. Prosa é quando o vento se insurge em nome dos teus passos tombados no chão.
Com que verbo irás apaziguar as pulsações que embatem diariamente contra os pulsos? Que poema gestual irás encenar quando as palavras deixarem de ser só isto? Responde em voz baixa para que os leitores não nos oiçam. As palavras podem estragar a beleza de um poema quando fazemos mau uso do coração.
Véspera por mim!
Chuva-me até à última gota. O bastante para te embebedares com a luz poisada no parapeito desta janela. Mas não te aproximes dos meus pensamentos. A menos que me deixes a tua ausência disponível para quem quiser despejar beijos dentro da minha boca. Algo me diz que já temos idade para riscar na parede versos que faltam para nos arriscarmos a ser poesia. Beija-me ficar. Antes que a vida me peça esclarecimentos acerca do poema onde escondi a tua ausência para te pôr a salvo das minhas ilusões.
Beija-me imediatamente sem aviso prévio!
Dá-me um abraço sem que os meus braços te peçam. Belisca-me o sono e a voz como te ensinei. Busca os retratos que atirámos no lugar da roupa suja como se neles fosse possível lavar o odor do cansaço. Pede-me em amor. O coração pode estragar a beleza de um poema quando fazemos mau uso das palavras. Repito.
Despede-me em ti!
Nenhuma flor chegará às tuas mãos a não ser aquela que inventámos para germinar no entulho dos sonhos.
Desta vez. Garanto-te!
Deixarei o teu vazio à disposição de quem quiser encher as mãos com horas fora do prazo de validade. Não vou mais pendurar minutos em pêndulos preguiçosos ou beijar-te ficar sozinha na sala de espera cruzando palavras usadas. Não vou mais fotografar retalhos como um ser que dói da mente captura memórias por arrumar.
Desta vez. Mesmo sabendo que não se pode ser amado à custa de um poema serei grato à poesia por não nos ter transformado em dois corpos sem uso.

sábado, 4 de setembro de 2010