sábado, 13 de agosto de 2011

Diminuto

São horas de apanhar o primeiro transporte público
que se atravessar no meu atraso.


Mas
por favor, deixa-me
pelo menos por agora
tentar ordenar os ponteiros deste relógio insustentável
em cujo tempo se privou de me transportar.



Das mãos
é preciso exigir mais qualquer coisa
além dum mero adeus
um verbo qualquer
que dê, pelo menos, para comprar o pão de cada verso.



Por hoje
permite-me que vá
devagar
para que a poesia
onde quer que apareça
possa ter a duração de uma pedra
por mais um minuto
desmesuradamente finito.
Inefável.



Com que lábios te vais defender dos meus beijos
aí, onde nenhum passado nos põe a salvo da memória?



Deixa-me fazer um minuto de poesia
em nome dos pássaros
abandonadamente suspensos
em linhas de voo.



Um minuto de poesia
apenas um bocado
o suficiente para flutuvoar rente às ondas
pingando indefesas
à beira da sede.



Fazer um minuto de poesia
como se o silêncio doesse mais alto
que as próprias palavras.



Repetir incansavelmente o mesmo verso
até que o poema se canse de ser diferente.



Amormecer no teu colo
e poesiar-me por todos os lados
enquanto as sonolências perto da tua voz
me dizem baixinho, muito baixinho
quase em segredo:



Poesia
é o prazer que nos acompanha
quando se escreve em legítima defesa da solidão.


11 comentários:

Poemas e Cotidiano disse...

Edu... estou aqui parada nessa poesia. Eu a li muitas vezes. Que coisa mais bonita! Que frases mais profundas! As vezes fico te imaginando escrevendo... tentando pintar a imagem na minha cabeca.
Que poesia mais profunda! Eu li e pensei: "Queria te-la feito!"...

"Fazer um minuto de poesia
como se o silêncio doesse mais alto
que as próprias palavras"

"Repetir incansavelmente o mesmo verso até que o poema se canse de ser diferente"

"Amormecer no teu colo
e poesiar-me por todos os lados
enquanto as sonolências perto da tua voz me dizem baixinho, muito baixinho mesmo
quase em segredo: Poesia
é o prazer que nos acompanha
quando se escreve em legítima defesa da solidão"

Amei isso tudo. Eu poderia citar cada verso... mas este pedaco do fim esta fantastico! Escreva mais Edu! Sao bonitas essas frases nas pedras, ou nas flores... mas acho que voce deveria escrever mais...como essa poesia, por exemplo.

Amei!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!


Beijos carinhosos
Mary

Nanda Assis disse...

sinceramente... ta pra nascer um cara que escreva tão magicamente como vc! eu paro na suaaa!!!

beijos...

Kátia disse...

Eduardo,
Como é bom poder voltar e respirar esses bons ares poéticos do seu canto.Que linda inspiração!

Bem hajas!

Grande beijo!

Anónimo disse...

"Legítima defesa da solidão". Como ninguém pensou nisso antes para a poesia?
Perfeito todo o poema, amo ler vc.

Anabela disse...

Vi os véus escarlates do teu recolhimento e li solitude onde escreveste solidão ;)

Anónimo disse...

Edu: Na poesia se descreve o que vai na nossa alma e na nossa solidão ou no nosso eterno silêncio. lindo poema amigo.
Um abraço
Santa Cruz

Penélope disse...

Um belo poema que prende-nos à leitura do começo ao fim.
Acho que todos nós queremos estar na companhia do ser amado ladeados de poema a fazer este momento de união mais doce e cheio de ternura.
A poesia é magica.
A única coisa que fala mais profundo do que o silêncio são os versos.
Abraços

OutrosEncantos disse...

... mas o silencio dói mais que as palavras, quando traiçoeiramente elas se fazem aliadas da solidão!
poema maravilhoso, Hedu!
beijoo!

Areia às Ondas disse...

Belíssimo. Como sempre. Beijo.

Chris B. disse...

E quem disse que os que amam querem defender-se dos beijos?

Teu poetar meu querido, é simplesmente maravilhoso!!!!
Estive com dificuldades para comentar aqui..coisas de google.

Um grande carinho para ti.

Anónimo disse...

"Diminuto" meio-arcano; (mas do que independente de ser)ainda que de acordo com as formas obsoletas, não registrei tal legado profano sobre este poema.
Linhas que arcam com os deveres linguísticos e as formas espirituais.
Ainda existe gente que eu possa estar-entre.

obrigado.

john